quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Um desabafo contra o preconceito

Gostaria de fazer um apelo aos empresários e recrutadores do Brasil. Por favor, considerem a ideia de incluir em seus planos os profissionais com mais de 50 anos de idade e que estão em busca de oportunidades dignas. Afinal, é um legado de anos de experiência que simplesmente está sendo jogado fora. Inutilizado. Em culturas mais avançadas, aqueles que chegam a esta fase da vida em plena produtividade são valorizados e aproveitados com méritos. Agora, num país com uma mentalidade anacrônica e aviltante como o nosso desperdiça o que levou anos para se formar.

Estou cansado de ouvir falar que profissionais mais velhos tem baixa estima, são relutantes à gestão dos mais novos, avessos à mudanças e passivos, além de serem caros para as organizações. Isso é mentira que deve ser removida da cultura empresarial. Os cinquentões de hoje são muito mais dinâmicos do que se possam imaginar. Possuem perfil em redes sociais, se relacionam cordialmente com pessoas de qualquer idade e tem uma ótima auto-estima, já que chegaram a uma idade avançada com energia e disposição para o trabalho. No Brasil, a aposentadoria, além de fornecer benefícios pífios, está cada vez mais longe das mãos de seus postulantes. Imaginem, então, os profissionais que hoje estão na faixa dos 20 aos 30 anos, com qual idade irão ter acesso ao benefício? Se a expectativa de vida do brasileiro continuar subindo e o INSS continuar falindo, talvez se aposentem aos 70 anos. E se estiverem desempregados aos 50? Ficarão por 20 anos procurando emprego? O tempo passa para todos, indiscriminadamente.

Outro mito que me aborrece é sobre o conflito de gerações. Ora, isso é velho, antigo. Não existe mais. Os baby boomers viveram esta fase, mas conseguiram, com muita luta, quebrar paradigmas e mudar a cultura, costumes, moda, artes, etc. Foram perseguidos pelas gerações mais velhas, mas resistiram e venceram. Na época, as empresas possuiam gestores que gritavam com funcionários mais jovens, humilhando-os. Era corriqueiro ver mulheres se trancarem no banheiro para chorar. Hoje, é assédio moral. As mulheres eram muitas vezes aboradadas de forma acintosa pelos gestores sem qualquer pudor. Hoje é assédio sexual. As relações no trabalho mudaram e as diferentes gerações convivem em harmonia com a diversidade. A tolerância é infinitamente maior, permitindo que diferentes gerações ocupem pacificamente os ambientes de trabalho. Falando nisso, fico imaginando por que do preconceito, uma vez que as pessoas vão para o trabalho para trabalhar e não para se enturmar. Desta forma, que importa a idade?

Diversas vezes concorri a vagas em lojas de shopping e, mesmo tendo o perfil 100% aderente à vaga, fiquei de fora na primeira seleção. Ao observar a última tentativa, numa daquelas enojantes seleções por atacado, onde todos ficam na mesma sala, levantam, falam um pouco de si e são avaliados às avessas pela recrutador. Afinal, quem foi o idiota que inventou isso? Como avaliar um candidato dessa forma? É possível tirar qualquer conclusão com esse método? Acho impossível. É apenas um teatrinho. Até porque o recrutador já tem o estereótipo certo para a vaga (estereótipo e não perfil). Afinal, os shoppings são vitrines com produtos expostos estrategicamente. E os pseudo vendedores tambem fazem parte da vitrine. Não precisam dominar técnicas de vendas, nem tampouco saber se expressar. Basta ter a aparência pré determinada. Até parece que só os jovens compram em shoppings. Percebi que alguns candidatos que se encaixavam no estereótipo tiveram um tratamento melhor. Foram questionados, enquanto eu e outros fora desta tipologia, ficamos limitados a uma mera apresentação superficial.

Já estou cansado de ser rejeitado por causa de meus cabelos brancos. O que vale é o meu currículo e minha capacidade para o trabalho. Não gosto muito desse negócio de cotas, e sim de uma conscientização, do respeito à cidadania e do direito de envelhecer com honra e qualidade de vida. Mas, se for a única forma de defender os interesses dessa classe desfavorecida, concordo na criação de uma cota nacional obrigatória. O papel principal de uma empresa na sociedade não é gerar lucro, e sim permitir a inclusão social do cidadão. Se elas não cumprem esse papel, que deem lugar a outras com tal disposição. Não sou comunista, nem socialista, mas acredito que acima de qualquer coisa, o direito ao trabalho é fundamental, principalmente numa sociedade capitalista. Pois, sem emprego, não há salário. E sem o salário, não há consumo. E, sem o consumo as empresas deixam de faturar. Já passou da hora do governo adotar uma medida intervencionista na questão para gerar empregos suficientes para aqueles que buscam uma oportunidade. Afinal, é o não é o Partido dos Trabalhadores?

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